Uma visão sobre os relacionamentos na atualidade e os scammers
O mundo virtual trouxe inúmeras vantagens: rapidez no acesso às informações, acesso a um vasto campo de conhecimento distribuído globalmente, redes de apoio, comunicação com pessoas de diferentes localizações e culturas e tantos outros benefícios.
Entretanto não é possível substituir os contatos pessoais pelos virtuais.
O distanciamento da vida real pode ser nocivo ao desenvolvimento psíquico e emocional de uma pessoa, e assim, buscar o equilíbrio é essencial.
Conhecer pessoas diferentes, de outras culturas, abertas a novas amizades é um dos fatores que estimula o primeiro passo em busca dessa experiência na rede.
Para Silverstone (2002) há uma sensação de familiaridade no uso da internet que não há em outras mídias e que está presente ao enviar e-mails, conversar nas salas chats ou através dos comunicadores instantâneos ou em opinar em grupos de discussão.
Todo tipo de emoções são criadas nesses ambientes, levando uma pessoa aos relacionamentos virtuais.
Seriam estes relacionamentos virtuais o resultado de uma falta, ou de um medo de decepções ou ainda do encontro com o outro?
Será que a possibilidade de socialização real que até então não existia é um fatores alguns casos?
Nos últimos anos, a busca pelos sites de relacionamento aumentou consideravelmente. Com a popularidade dos celulares, abriu-se um filão lucrativo para esse mercado, afinal, com um clique, escolhemos o serviço que mais nos apetecem.
A conversa nos “chats” é uma forma de facilitar o contato afetivo porém sem uma proximidade real, corpórea e quase ilusória.
As perguntas são várias: o que leva uma pessoa a procurar um site de relacionamentos?
Por que as pessoas procuram sites de relacionamento?
Algumas possibilidades sobre o relacionamento virtual
Aponto aqui algumas possibilidades:
Estar sozinho em nossa sociedade
Algumas vezes, é visto como um fracasso social. E nem sempre é isso.
O sujeito é exposto a comentários e rótulos como por exemplo: “nossa, já acabou seu namoro”, “não casou ainda”, “você não tem sorte mesmo”, “ah, não acredito, você não tem ninguém”, “coitada”, “que pena”, “separou”, e tantos outros que passam a incomodar.
Claro, há outras possibilidades, como o vazio das relações…
O vazio nas relações reais.
Algumas pessoas não querem “se aprofundar na relação” optando por estar com alguém apenas por estar ou “curtir o momento”, fugir da solidão.
Acabam não conhecendo o outro como realmente é, formam relacionamentos sem base, sem estrutura, que tendem a ruir.
Depois de alguns encontros (ou nenhum encontro), cada um vai para o seu lado, não sobrando muitas vezes uma simples amizade, nem real, nem tão pouco virtual.
Anonimato
Algumas pessoas também pensam na segurança do anonimato, pois os perfis possibilitam não colocar uma foto, ou ainda, a possibilidade de colocar uma foto “fake”, de outra pessoa.
Podem falar o que quiser de si mesmas em suas breves biografias (ou não falar nada) sem se prender a verdade, ou ainda, deixar espaços em branco, usar nomes fictícios, tudo o que for possível para preservar a sua identidade.
Novas fantasias
Há também o desejo de realizar novas fantasias sem culpa através do sexo virtual, onde evita-se o encontro com o real do corpo, com a realidade subjetiva de cada um.
Problemas com a autoestima
Problemas de autoestima onde através dos perfis virtuais, é possível a construção de um “eu” que pode ser admirado, amado, identificado com um grupo, ser “popular”, encontrar a sua “tribo”.
Podemos exaltar qualidades e esconder defeitos, uma mentirinha lá, outra aqui…
Socialização
Pessoas tímidas e introspectivas podem ter uma rede de amigos enorme, porém, não refletindo no mundo real.
Isso as faz acabar se isolando cada vez mais em suas casas e em frente de seus computadores sentindo-se cada vez mais sozinhas.
Para elas e outras, a internet propicia ainda a possibilidade de conversar em um ambiente seguro, não precisando se expor em festas, ruas, bares.
Uma relação virtual
Com o índice de violência cada vez maior nas grandes cidades, a tendência de evitar riscos também fez com muitas pessoas optem por essa escolha.
Ao cadastrar-se nesses sites, surge uma busca frenética de perfis afins, o desejo de encontrar o par ideal, a sua alma gêmea, o amor verdadeiro.
As relações virtuais levam à paixões, namoros e como na vida real, alguns dão certo, outros não.
O perigo está na incerteza da veracidade das informações, intenções citadas ou demonstradas.
Há casos de pessoas que passam anos em relacionamentos virtuais sem o convívio físico, necessário para realmente se conhecer o outro.
Bauman (2004) define tanto as “práticas amorosas” virtuais como os relacionamentos afetivos marcados pelo gosto pela efemeridade pelo termo “relacionamento de bolso”, pois podemos dispor deles quando necessário e depois tornar a guardá-los.
A imagem que temos do outro é idealizada, onde a mente preenche as lacunas das informações não obtidas.
Podemos sofrer uma desilusão, frustrações pois as expectativas que criamos na realidade são ampliadas no mundo virtual.
Lamentavelmente, algumas pessoas têm sido vítimas de golpes em sites de relacionamentos.
O crescente número de vítimas e a desassistência psicológica, muitas vezes não procurada por vergonha, é preocupante.
No geral são pessoas de idade madura, na maioria mulheres, com provável estabilidade financeira, porém separadas, viúvas, solteiras, com ou sem filhos. Ou seja, as vítimas tem um perfil caçado através dos dados fornecidos por elas mesmas nas redes sociais.
Scammers
“Scammer” é um termo utilizado pela informática que determina todo tipo de golpe aplicado pelos meios virtuais.
O uso da internet criou uma revolução dentro dos meios sociais, e a sua praticidade tanto trouxe benefícios como transtornos causados por pessoas mal intencionadas, que na verdade, podem estar em todos os lugares.
Os “scans” (golpes) mais antigos e conhecidos são os e-mails onde o sujeito é direcionado a clicar em links, baixar arquivos ou fornecer dados pessoais, com isso ingenuamente, instalando programas maliciosos em seus pcs e com isso, roubando dados digitais e confidenciais. Quem nunca?
Em namoros virtuais, através de perfis fakes são usadas fotos de pessoas inocentes roubadas de perfis reais, para atrair vítimas em todo o mundo, homens e mulheres.
Após um certo tempo de envolvimento, as vítimas são coagidas a enviar somas de dinheiro para o golpista com a promessa de um falso encontro ou futuro compromisso.
Nesse ponto, a vítima já está emocionalmente envolvida, na expectativa de concretizar o encontro.
Fragilizada por outros relacionamentos ou por sua história de vida, teme perder aquela oportunidade de “ser feliz para sempre” prometida pelo golpista.
Percebendo esse ponto, ele ataca.
Esse golpe é aplicado, na maioria das vezes, por integrantes de verdadeiras máfias identificadas pela Policia Federal, oriunda de países como Angola e Rússia; porém, há pessoas que se infiltram nas redes de forma isolada, por conta, algumas já presas aqui no Brasil mesmo.
Há casos em que a vítima, mesmo após o crime, fica à espera de uma pessoa que nunca vai chegar. Alimentando assim uma fantasia que nega o real, encobre a decepção, culpa e o vazio.
Obviamente, não existem só fracassos em relacionamentos virtuais, muitos casos deram e dão certo.
Como aponta Silveira (2004), os primeiros relatos de pesquisa procuraram responder questões como “se a internet está aumentando as conexões interpessoais ou levando a maior isolamento?
O sexo virtual é patológico ou saudável? “ (apud Clay,2000).
Diante dos “tempos líquidos” (Bauman, 2007) que hoje vivemos e da complexidade das relações que as redes sociais propiciam, o tema torna-se relevante como pesquisa no campo social, midiático e da psicologia.
Podemos, através da conscientização da sociedade, tornarmo-nos agentes multiplicadores do combate a essa máfia que permeia os meios virtuais.
Em caso de suspeita de golpe, a vítima deve procurar a ajuda da Polícia, evitando que outras pessoas sejam atingidas e acompanhamento com um psicólogo.
Cabe, também, a Psicologia e a Psicanálise desenvolver um olhar mais atento a esse fenômeno e propiciar a esse sujeito, a reconstrução da sua dignidade, subtraída de forma vil.
E por fim, estar presente onde se fizer necessário, diante das novas demandas que surgem e novas tecnologias.